quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Encanto de novembro

Meu pequeno conceito de felicidade se ia resumindo a uma companhia modesta. Era um detalhe tão pequeno te ter por perto, te ver chegar suado e sorridente.
Desses romances que tem data pra terminar e justo por isso a gente entrega a ele a última possibilidade de amar, como se o calor de uma noite pudesse transformar nosso futuro em alegria e presença. Oh dezembro, você sempre representando o meu fim; construindo-me e desfazendo-me com minha autossuficiência.
Você que era inocente e corria atrás de um sonho, eu que voava e agora queria o sossego de um lar. Me pergunto agora quantos dias teve o último mês e perco a conta em meio de uma despedida que teve sabor a reencontro.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O baile de uma só pessoa.


A história de uma pessoa só 



Eu acho que deveria começar por algo que talvez eu não tenha deixado claro antes: Eu gosto de você. Meu coração é que é ferido demais para demonstrar isso e agora eu sinto a falta da sua presença nele. Eu deveria ter me curado dessa doença imaginária da solidão que trago comigo. Eu deveria ter esclarecido que minha alma era um pouco escura para você caminhar. Eu deveria ter começado já aceitando a possibilidade do não. 

Não, eu não aprendi a dizer não e não aprendi a aceita-lo também. Eu achava que uma conspiração Divina talvez estava trazendo-me uma cura, esqueci que essa doença necessita de mim tanto quanto eu necessito dela para existir. É eu deixei de viver, passei a existir ou talvez a coexistir na presença de alguém ou de alguma sombra que me fizesse alegre. Eu nunca estar triste não era uma realidade, era minha fábula. E nem digo que um dia eu tive um conto por que com certeza eu estaria na parte escura dele; odiaria as princesas. Odiaria nunca ter tido a chance de ter sido uma. Odiaria o ódio que teria por não me amar. 

Tentei sorrir um riso sincero, estava na verdade achando que era verdadeira. Eu me escondi numa cápsula de dificuldades, desentendimentos, desilusões e desamores. Não queria que estivesse dentro dessa minha triste coleção. Não, eu não acredito na eternidade, mas infelizmente não aprendi a aceitar o fim, de nada; talvez eu aceite o fim da vida, esse sim o espero de verdade. 
E foi com lágrimas frias e corpo quente que eu me afundei. Não houve fusão: corpo, alma e espírito. Cada qual na sua sintonia, cada um sem direção. Foi buscando me fazer feliz que eu queria teus risos, alguns chamariam de egoísmo enquanto eu carinhosamente chamava de cuidado.
Você não notou que eu me dedicava de maneira sutil e real para que isso pudesse se realizar. Não percebeu que eu estava esperando por você desde o mês passado e que enquanto você não chegava eu era triste. De que me adiantou se eu sou triste agora por que você se foi. 

domingo, 1 de janeiro de 2012

Construção

Dizem que os olhos são o espelho da alma. Você me responde docemente que nada vê, eu imaginei. Te peço que quando a veja por favor grite; chama-me. Ela esteve perdida por muito tempo e agora eu tenho a necessidade de que volte para que você possa ver o quão transparente ela é. Talvez a dificuldade em vê-la é que ela se esconde no profundo escuro que qualquer olhar busca.

Os meus beijos só contêm corpo e por isso você diz que eu não estou quando fecho os olhos. Sim eu estou; perdida talvez, mas sim, quero seguir.
E agora a distancia, o pensamento e a possível saudade que não existiriam, me traz a lembrança dos dias dedicados a uma amizade que lindamente ganhou belas formas dentro de um coração machucado.

domingo, 6 de novembro de 2011

Regresso.

Carregas um corpo que não te pertence, eu sei. Vejo você se fingindo de feliz. Você quer chorar mas a  possibilidade de borrar a face com o rímel que te embeleza te faz permanecer sorridente.
Carregas uma alma que também não te pertence, ela é leve demais para esse corpo frio que tens. Não tens mais fogo e  nem paixão, já não tens mais medo e aprendeste a carregar o peso da solidão.
Sabes que és bela, mas perdeste aquilo que brilha no fundo dos olhos, perdeste o sol que te trazia noites de vida; perdeste as estrelas que guiavam seus dias.
Estas perto daquilo que procuras ser, mal sabe o que o mundo é. Acredita que  a bondade está para as pessoas assim como a música está pro coração. Um beijo que te prende, um sonho que te liberta. Um desejo calado, sufocando a garganta do senhor destino que te pede para voltar.
Você vai ou você fica, nem sabe em quem acredita. Você pede ou você chora, junta as malas, você não fica; você sempre vai embora.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Novos ares

Junto com teu jeito misterioso de me olhar veio o desejo de liberdade. Seus olhos tão escuro quanto a profundidade do abismo que vinha me salvar. Sorrindo das minhas palavras que nem ao menos conseguia entender é que eu pude experimentar o doce de novos lábios. Abraçava-me trazendo de volta o carinho e cuidado que havia deixado tão-tão longe.
Brindava uma inocência da qual dava aulas de sinceridade duvidosa. Pondo-me insegura se deveria confiar-te ou se embalaria-me em seus contos traiçoeiros. Chegava com a sensibilidade do poeta e com a força do tigre. Assemelhando-se a um desses Felis Silvestres que caminha perdido pelas ruas.
Dando insuficiente atenção a criança que ainda não aprendera a amar mas já conhecia o sentido das lágrimas é que clareava a falha dos seus cuidados ternos. Um riso forçado pelo esforço de entender a ironia que nem ao menos tinha tradução. 
Expondo a possibilidade do fracasso ao qual nascera e a tentação de testar o domínio e a fragilidade de sentimentos, algo que trazia escuro, algo que estava fechado.
O sujeito EU do egocentrismo que te pertencia gritava alto ao sujeito meu: 'Vem, não há fronteiras'. 
Vou! Voou. 

sábado, 9 de julho de 2011

Como se faz uma estrela

Sophia havia completado oito anos na semana passada e causava espanto as pessoas por causa de sua miudeza. Poucas vezes ela sorria e parecia nunca escutar direito o que seus avós falavam. Sua memória estava completamente livre; sendo ocupada apenas pela cruel lembrança de um acidente e uma conversa que sua avó havia tido com ela numa noite de outono, explicando-lhe de onde vinham as estrelas.

- Sabe de uma coisa, Sophia... as estrelas é o que há de mais lindo na criação de Deus, depois do ser humano. Deus criou a vida e deu um relógio a cada pessoa dizendo que haveria um momento em que o relógio iria parar. Nesse momento Deus se entristeceu por que não queria perder as pessoas que havia criado com tanto amor. Então ele decidiu que quando um relógio parasse de funcionar ele colocaria uma estrela a mais no céu e assim nunca deixaria de se lembrar daquele cujo o relógio não funcionava mais. Papai e mamãe estão no céu agora, eles são estrelas.

As palavras de sua avó jamais saíram da cabeça de Sophia. "Papai e mamãe são estrelas agora". Todas as noites antes de dormir a menina olhava o céu por alguns minutos, admirava sempre as estrelas e desejava no pequeno raso de seu coração ter uma em suas pequenas mãos.
Haviam se passado três anos desde a conversa com sua avó e Sophia agora recém completou seus oito anos. Era considerada pelos avós como a mocinha da família. Na cozinha de uma humilde casa de interior sua vovó prepara uma linda cesta de pick-nick.

- Sophia hoje você vai conhecer uma das coisas mais bonitas que tem no mundo.

- Mas eu já conheço as estrelas vovó.

- Não, Sophia, o lugar que vou te levar é lindo e não são estrelas. Hoje vou te levar para conhecer o mar.

Durante a viajem Sophia pensava; "o mar não deve ser lindo, não é igual as estrelas". Depois de uma hora de viajem Sophia e os avós chegaram a praia. Desceram do carro, armaram o guarda-sol e prepararam os lanches. Após meia hora ali instalados o avô de Sophia lhe disse:

- Querida vai andar um pouco pela praia, há coisas que são como tesouros e estão sempre muito bem escondidas.

Sophia saiu. Caminhou quinze minutos e encontrou uma trilha de conchas que a levaram ao encontro de uma estrela-do-mar. "O mar é melhor que o céu, as estrelas do céu eu não posso ter em minhas mãos".
Sophia pode ter em suas mãos uma estrela. Sophia foi a caminho de ser uma estrela.

domingo, 22 de maio de 2011

A hora do adeus

E o vazio de sentimentos vai sempre estar em mim. O resto do preenchimento de minh'alma se foi com o fim do brilho do meu olhar. O coração vai bater sem música a partir de agora; e aquele filme que combinávamos de assistir nas férias de inverno vai ficar para uma próxima possível companhia. E eu do outro lado da estação, vou acenar com mãos de um adeus. Porque em meu peito há necessidade de uma nova ferida e não há sentido que preencha a falta de sentimentos.
O escuro do velho caminho acalenta a amargura. A amargura da velha vida cerca o conformismo me fazendo estática a propensão do novo e do bom. Secaram as lágrimas que me davam esperança, fugindo também o riso lúdico estampado em minha face. Perdi o encanto do amor que dava-me luz restando-me vestigíos de purpurina-púrpura que colorem minha casca.
Desejei ao que estava distante pelo simples prazer da busca e abrindo mão do que me era fácil perdi tudo aquilo que estava por perto. Me acompanham os passos desritmado de um corpo pesado por seus pesadelos. Abrindo a janela para o sol entrar e descobrindo que é com o coração vazio que a paixão vem visitar. A insistente dúvida do "quem já amou é que aprendeu a amar?".
Perdendo o dom da poesia e do canto que dava vida as noites de embriaguez. Aceitando a qualquer troco que pagasse a passagem de partida. Retorcendo-me a possibilidade do retrocesso, e descobrindo que a virgindade não lhe fez santa. O seu coração se fez de pedaços pequenos de grandes frustrações.
Seus preceitos mergulhados no preconceito que a movia, fazendo-a vazia e seca. Movendo-se em circúlos de  fogo que faziam arder seus pensamentos enquanto os queimavam. Calmamente, movendo-se-ia após conhecer os efeitos da estricnina.