segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Intertextualizando

[¹] Quando se é criança e anda de mãos dadas não percebe que na  vida terá muitas correntes quebradas, acredita sempre existir alguém que o segure quando quiser se jogar e espera tanto o natal por que sabe que com ele vem os presentes.
Ela não aprendeu que do hoje para o amanhã são só vinte e quatro horas e tem medo que o mês do seu aniversário nunca mais chegue.
Vai aprender logo que o frio exige cobertor e que às vezes o oferecerá a alguém que não precisa e vai negar o perdão a quem possivelmente o merecia. Algumas vezes você vai se calar nos momentos mais difíceis.
Talvez você se arrependa de fazer certas coisas, mas se arrependerá muito mais daquelas que não foram feitas. Num dia de chuva você vai sentir saudade de um amigo que não vê a anos. Olha para trás  e vê que os amigos da faculdade já não são os mesmo que andavam com você de bicicleta.
As lágrimas vão encharcar o travesseiro por aquela pessoa que se foi sem que ouvisse mais uma vez que você a amava.
A maneira como agimos com os outros mostra quem somos de verdade, e ter caráter é algo que depende exclusivamente de nós.
Em algum momento você vai fugir para caminhar sozinho na praia e em pensamento vai descobrir que a verdade não tem dono.
Você vai aprender que os heróis só existiram depois dos vilões. E que ninguém nasceu bom em nada, mas com certeza os melhores são também os mais dedicados.
Vai achar que depois dos dezoito anos o tempo voa, mas mesmo antes disso você terá de fazer escolhas responsáveis. Muito antes disso você vai descobrir que os presentes de natal  eram dados por alguém que o amava mais que o bom velhinho.
Quando o amado se for você vai gritar irracionalmente sem se dar conta que o amor jamais acaba, apesar de existir de várias formas.
Vai aprender que por maior que seja a dor emocional que sinta sempre terá alguém em uma situação pior.
Você vai aprender que a grama morre instantaneamente quando se caminha sobre ela.



¹ Um dia você aprende/ William Shakespeare

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Esperança que se cansa

Aquele antigo costume já se tornava um vício que aos poucos embebedava sua alma. O velho costume de sair pelas portas do fundo era uma cena corriqueira em sua vida. Ao sair não fazia barulhos, deixava a porta sempre entreaberta para que não a esperassem ao final da tarde.
O vício de não regredir fazia dela uma sonhadora que ao longo de seu caminho cravejado de espinhos, lá perdendo suas raras rosas adormecidas que conheciam bem o som do soluço que acompanhavam aquelas lágrimas salobras. O vento que acompanhava seu caminhar ia se opondo aos sonhos que carregava em sua cesta de pic-nic... nem sabia ao menos se encontraria um lugar tranquilo para descansar. Seus pés estavam descalços  e apresentavam a canseira do caminhar.
Resolvera repousar só por uma noite e quando acordou é que percebeu os anos que haviam se passado de uma hora para outra. Se tornou mulher sem ter tido ma noite digna de debutante. Com um simples pulo de corda passou da infância para a velhice com a boca cada vez mais murcha e a pele menos elástica.
Passaram os amores, os amantes, os amigos e o verão. O tempo carregou a esperança, o sorriso e a lucidez. Estava esperando desacompanhada a entrada daquela que não tem a cor revelada... esperava, já cansada; o fim.