segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Pássaros

Eram como pássaros para mim. Tudo acontecia como a leveza e beleza de tal. Eram como beijas-flor que voam rápido e sempre em busca da margarida mais doce. O que de mim havia sido sugado restava-me o fel como a amargura da não escolha. Eram leves e soltos como pássaros.
E de mim era a escolha da prisão, eram belos e eu os queria por perto. Não poderia permitir que eles voassem ao horizonte, poderiam se perder e eu estaria longe demais. Senti que faltavam-lhe liberdade mas o que de mim queriam? A liberdade que os salvaria seria a mesma que que acabaria com meus sonhos, fazendo inválida a pouca coragem que me deixava em pé.
Eram soltos e sorridentes como se o pouco espaço que eu lhes dera fora o suficiente para suas ações. Esquecera o sabor da rosa e já havia se adaptado ao gosto regrado da ração. E eu que poderia ter impedido seu voo acabei impedido sua mobilidade. Não esperava ver meus pássaros sofrendo, mas na mesma prisão que eu os tirei a liberdade eu escondia minhas angústias... Se quisessem eu os libertaria...


... Eram como pássaros pra mim.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O que teria sido daquela manhã ensolarada num quarto de hotel barato onde o calor e a preguiça reinavam sobre corpos suados? O destino guardaria de nós a simples resposta que aquele breve mês não nos soube dar. Guardaria comigo mais um motivo para o desapego, para o egoísmo, para as incertezas. Tudo acontecia no final do inverno, mas não sintamos frio e agora que já estamos no começo do verão o sol não nos aquece o suficiente para que não sintamos medo.
E eu que corria contra o tempo agora o vejo próximo e sei que ele veio me levar, não me perguntou se eu queria ir. Não pediu licença se podia entrar... eu sei que ele veio só para me levar. A estrada ainda é a mesma, a regra não mudou: A caminho que lhe trouxe é o mesmo que te leva, a chuva que molhou trás o vento que seca, a flor que morreu é o adubo para a que vai nascer.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Procura-se

Sentia falta daquilo que de verdade nunca conhecera. Faltava-me algo do qual eu não tinha a ideia exata do que realmente era. Era como se o desconhecido me fosse o essencial, uma essencialidade necessária. Eu sabia que aquilo que nunca possuíra era talvez o que me tornaria feliz. Como saber? Eu nunca o possuíra mesmo, não é! Não sabia se tudo isso era uma ilusão das minhas irrealidades ou se de fato seria através do desconhecido que eu começaria a me conhecer.
Nada me era novo, nem a frieza nem os pensamentos. Nada me era novo de modo que qualquer coisa me era necessário. Eu ainda não havia descoberto o necessário. Sabia que as coisas não estavam certas e no meio disso sabia exatamente que não estava feliz. Como buscar o erro em meio uma escrita retilinea? Tudo estava de tal modo que eu reconhecia algo faltando, mesmo sem saber exatamente o que era. Esse talvez era um problema até então oculto que agora se revelava a mim. Reconhecer que se precisa do desconhecido e sabendo que talvez o deixa passar aos seus olhos pelo simples fato de não o reconhece-lo é confuso.
Todos olhavam-me de tal maneira a mirar-me e por mais que buscassem não exenrgavam com os meus olhos, eles não conseguiam ver o erro. Era irritante saber que para todos estava tudo bem, eles pareciam cegos; no mínimo uma cegueira noturna em que não percebiam a falta do desconhecido. Como eu me dei conta de que faltava algo? Não soube eu mesma explicar, sabia que estava me faltando um tempero. Em  meio essa busca não percebi o gosto extremamente irritante do sal. Não faltava sal, não era bem o sal que faltava a minha alma, a receita talvez fosse doce ou o que faltava talvez era uma receita.
Não houve seguimento nem linha lógica e cronológica, houve apenas um ranger dos dentes, houve apenas a percepção de que algo estava errado. Será que estou na mesma cegueira noturna do que esses tolos que não enxergam a falta de algo. Está me faltando algo que é essencial e eu não o enxergo. Cadê meus olhos? Esses não conseguem nem ao menos mirar-me, meus olhos me reprovam. E são eles que me denunciam a verdade até agora ignorada por mim mesma. Meus olhos fadigados de tanta procura insana.
Como um dia distinguirei a verdade de minhas máscaras se nem ao menos sei o que está me faltando. Como poderei um dia ser transformada, como?
Eu me vejo morrendo sem desvendar esse mistério, me vejo ao fim sem ao menos ter me reconhecido em vida. Como saber se foi a minha vida foi vivida se não descobri o que nela faltava? Eu posso ir sem reconhecer meu verdadeiro rosto, posso ir sem me olhar no espelho eu só não quero ir sem descobrir por que o desconhecido me faz tanta falta. Eu não suportarei mais a vida com esse enigma, não quero e nem posso aqui ficar com tantas fraquezas. Não seria justo que eu não me reconhecesse, não seria justo que eu saísse pela porta dos fundos sem entender o que se passava dentro dessa alma desabrigada.

sábado, 14 de agosto de 2010

Memórias póstumas

Maio acabou. A flor ainda está lá, e viva, mas eu sei que ela também vai morrer. Sim, a mesma flor que esteve presente no ápice se fez presente na despedida. A mesma flor que havia me trazido vida está presente no meu enterro.
Eu já quase não me recordava do começo, era distante demais e eu sabia que o fim estava bem mais próximo que o início. Meu assassinato estava chegando, você me matava enquanto eu permanecia quieta. Você me matava com palavras enquanto eu morria em silêncio. Eu nem tive tempo de gritar; morri.
Olhar a tudo é bem mais interessante aqui de cima, esta alma vazia transita sem ao menos ser percebida. Ela vaga por noites vazias. Ela já não pode mais ouvir vozes, somente vê aos gestos que ainda lhe são confusos, principalmente vistos de tão longe.
Minha alma vaga de longe e a cima de tudo, ela só não está no céu e nem sabe se é para lá o seu destino. Eu sabia que deveria ter me preparado melhor para a morte. Minha alma, coitada, está purgando.
Coitada? - Não tenhamos pena dela, cada um tem o fim segundo o julgo de seu assassino. Foi você quem disse que eu estava morta, só se esquecendo de agir como Deus ou o diabo, você me matou e nem ao menos me deu abrigo, matou-me pelo simples prazer de sua existência.
Vejo e revejo mil vezes a mesma cena, vejo-a tão embaçada que não sei se o que me matou foi o teu ódio ou teu amor. E que diferença isso faz, afinal um já existia sobre e sob o outro.
Só peço que tirem o meu corpo do meio da rua, as pessoas estão comentando, perguntam umas as outras de quem é esse esqueleto estirado. Tire meu cadáver da rua enquanto ele ainda não entupiu os bueiros com minha imundice e meu sangue sem hemoglobinas.
Vejo que já é hora de me retirar, vou a procura de qualquer advogado do diabo que me dê clemência. Que abrigue minha alma fora do purgatório, estarei preparada para qualquer que seja o sim. "Eu vi a cara da morte e ela estava viva" ¹


                                                                                                               1: Boas novas; Cazuza.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Variantes

Aos poucos ia percebendo que já não tinha mais motivos para sonhar.  Percebia que só se levantava da cama por que o sono já havia acabado. E que as enormes olheiras estampadas em sua face era o sinal de uma péssima noite anterior.
Dessa vez caminhava do lado mais movimentado da calçada. Ainda que odiasse a multidão era perto dela que queria estar. Ainda que já conquistara a salvação parecia não abrir mão daquele perdão.
Seu tempo era mais dedicado aos outros do que ao espelho. A imagem refletida se assemelhava a imagem da derrota. Faltava-lhe força. Havia sobras de amor e um cartaz à procura da esperança.
Escondia-se na forma singular de um olhar, esse sempre a procura de luz. Retribuía aos abraços  como se gostasse deles. Via a tudo e falava apenas o necessário. Já não via a necessidade de sua presença, de seus sorrisos. Não via a necessidade do tempo e do tamanho espaço.
Aos poucos ia percebendo que ao seu redor variava os gostos, os rostos. Variava em seu sentido e forma . Ainda não perdera sua aparência de rosa, apenas se protegia mais com acúleos e evitava que exalasse seu perfume.
Era intensa de sentimentos, porém seca de palavras. Duvidava de seu próprio caráter, não que fosse perversa ou desejasse a maldade, mas, era entre esses que se escondia. Trazia consigo uma feição temerosa e mãos frias.
Não teria sido o suficiente a tristeza do poeta ou as lágrimas do ator. Ela estava no teatro a meia hora e ainda não descobrira a que peça havia interrompido.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Personificação

Um olhar mais perdido que o de costume. O batom vermelho saíra antes do primeiro beijo. As luzes tonteantes a agitava e mesmo sem apreciar o rítimo sentia em  seu sangue um calor dançante. Era impossível vê-la  sem querer descobrir mais de sua origem. O intrigante é que ela não tinha passado. Tudo que vivera até alí era uma noite sem recordações.
Via ao lado a cena patética de um beijo sem esperanças. Fugia o olhar como quem foge ao mundo. Vivia em seu mundo de escassez. Agora estava presente nele e lhe era  escasso o oxigênio, a sobriedade e o amor. Talvez a falta deste o levara até alí. Por não mais acreditar nos contos de fada é que preferia estar com as bruxas.
Contava suas histórias como quem tivesse  sido feliz nelas. Mostrava sua inteligência confusa. Causava admiração, e ela sabia bem disso. Era o que queria, era o que lhe bastava.
Naquela noite ela não tinha sonhos, não tinha medos, nunca tivera amores. E não estava a procura de um. Ela buscava algo que a tirasse de sua realidade. Aspirava monóxido de carbono como quem aspira vida. Tragava como quem pede paciência. - Eu sei que ela tinha pressa.
Tinha pressa daquele olhar que já havia percebido ao lado. Tinha pressa em perder os sentidos. Tinha pressa em sua paixão noturna.
Agora ela se apaixonava por todos e à toa , preferia assim. Sabia que lhe era melhor. Neste ela amava a maneira como a olhava fixamente. - Todos sempre a olham fixamente. Naquele gostava da maneira como lhe mandava flores. - Ela odiava o perfume das flores.
Sabia que seu charme estava ao fim. A noite já estava acabando e era vaidosa demais para  permitir que a vissem sem maquiagem. - Era triste demais para permitirem que a descobrissem sem máscaras.
Precisou aspirar  o oxigênio que ainda lhe cabia nos pulmões e ter coragem para sair, sem ao menos dar um tchau. Sem chances de que lhe descobrissem o personagem.

domingo, 4 de julho de 2010

Espécie

Esse barulho do vácuo é atormentador e bom aos meus ouvidos. É realmente aquilo que eu preciso escutar... nada. É também o máximo que posso esperar.
Não escuto passos. As pessoas são desorientadas e nunca sabem em que direção devem caminhar. Não percebem que há apenas um caminho a se escolher; e que o sentido de sua caminhada não precisa ser constante. Elas não percebem que há momentos certos , melhores para se começar a andar.
Ando em silêncio! Gosto do susto momentâneo da surpresa. Para quê chegar com olofotes e já ver a reação alheia? O bom mesmo é admirar rostos com expressões assustadas pelo inesperado.
Infelizmente são todos iguais, repletos de uma enorme previsibilidade. Não o culpo, afinal o defeito é dessa raça "humana" da qual você faz parte.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um pouco melhor

Me faz tão bem estar assim, mostra a minha crueldade atrelada com a falta de sentimentos.


Dóis mas passa. Grito, porém calo.


Sofro. Mas tenho forças.




Passa. Eu sei que passa. Sempre!

sábado, 12 de junho de 2010

All star

Era só mais um garoto como centenas de milhares que existiam alí. Só mais um garoto que não conhecia a receita do amor. Era só mais um garoto que conhecia a regra: "meninos não choram, não se apegam". Mais um garoto que se fazia diferente. Era só mais um garoto de all star tocando seu violão.
Era um garoto que vivia seu começo-fim de juventude que murcharia sem a presença daquela estranha garotinha. Era uma garota e toda a sua liberdade de mulher, todo seu cuidado de boneca. Era quase uma ciranda... acabou! Era só um garoto indeciso como todos os garotos. Esse é o problema dos garotos...
Era só uma garota tremula e sonhadora que exitava querendo ouvir a verdade, que negava o seu próprio conceito de verdade. Era só um garoto confuso ou um confuso garoto, com sua tão sonhada liberdade. Era uma garota e sua eterna espera, seu telefone apertado entre as mãos. Era um olhar fixo para a lua e sua constante dúvida.
Era a espera incessante de um dia que talvez nunca viria que talvez só ela o esperasse. Era uma carta não respondida, uma foto não mais mexida e um diário perdido... era uma constatação não feita, já era até uma remota lembrança. Foi um descuido!
Era o encanto ferido, a dor retomada. Eram laços desamarrados e lábios desencontrados. Uma lágrima seca, um orgulho ferido. Era só mais um garoto de all star tocando seu violão.
Era só mais um garoto como milhares desses que existem por aí, mas foi esse que tocando seu violão a tocou. Era esse garoto tão comum que não saía de seus sonhos de menininha. Que a fazia pensar no reencontro e que a fazia se afastar e mais uma vez a sentir medo.
Era só mais uma história. Era só mais um ponto sem nó. Era só mais um garoto de all star.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Lapços de memória

Parece cada vez mais distante há uma certa profundidade que chega a ser imperceptível. Todos ainda o avista lá em baixo, escutam a tua voz gritando por um nome que a cada grito se afasta mais um passo. Apontam em sua direção mostrando-me que alguém chama por mim. Pareço distraída demais para ver o quê é. Todos já conhecem esse filme reprisado que insiste em se fixar em nossas memórias. Em breve não será mais do que isso... memórias.
Uma memória assassinada ou calada que não faz questão de mostrar os restos de seus arquivos. Em breve, se não for guardada vai desaparecer. O café amargo em minhas mãos cairá sobre elas e sei que já não terei mais tempo ou paciência para uma restauração.
Em breve essa memória se resumirá a apenas um nome, nada mais que um nome sem destino. Um nome vago e meio turvo, que embora ainda me confunda é só mais um nome tão frequente como o que chamam de amor.
Sim, o amor morreu assassinado na esquina da minha casa. Por mais que eu quisesse salva-lo era bonito ver a sua agonia. Me fazia cruel e racional.
Vai ser triste ter em mente a cena daquelas ruínas... o choro. Até que um dia vai se acabar, e verei outra história construída em cima daquelas ruínas. Verei outras histórias arruinadas pela minha surdez.
Talvez  eu quisesse voltar, mas sinto que quero mesmo é correr e não ver mais os restos daqueles destroços.
Não passará disso pra mim. Tenho certeza que se questionarão o por quê de tanta maldade, vou pedir-te que vasculhe os arquivos e que leia os resquícios daquela mente que já se desocupara de você.
No máximo vai chegar a um olhar brilhante... chego a duvidar. No máximo chegará a um encontro esperado ou as últimas palavras que nunca cessarão. No máximo chegue a um pedido de desculpas, questionado o seu por quê.
E o tempo vai levar-me consigo, carregar-me em seus braços; no seu tempo e sem destino.
O tempo questionará minha memória, meus medos, minhas falhas. Minha memória questionará o tempo... a vida. Minha vida não terá mais tempo e nem memória para questionar a você.
Minha memória o guardará muito secretamente; receio que eu mesma não possa encontra-lo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Meu querido jardim

A cidade cinzenta agora se fazia maravilhosa mesmo que lhe faltasse o mar ou o calor.
Maravilhosa nas variantes de turquesa que lapidava o céu; no alaranjado do sol que refletia no cabelo fazendo confusa a sua cor. Dele valia-se também o vento. Vento esse que obrigava o agasalho. Vento esse que libertava. Fazia ao menos por um instante o favor de um sorriso que vinha no canto dos passáros ou no verde das árvores.
Eram tantas cores, tantas caras. Uma simplicidade tão requintada.
Era o gelo da solidão. A brisa da liberdade. O gosto pelo novo.
A ação não perdida sobre o sentido... o real sentido da vida.
Era o feio suprimido, a tristeza repreendida.
Era a voz calada e um coração quase apertado.
A cidade cinzenta agora contrariava  Saint-Exupéry. A beleza refletida por ela se fazia essencial aos olhos de toda uma multidão.
Eram poses. Eram pessoas. Eram, talvez, pedintes.
Pedintes de um pouco de sentimento. Eram alegria de criança. Eram paciência de ancião.
Faltou-me mais expressão. Faltou-me um desenho. Faltou-me até as bonitas palavras, corri a seguir as mesmas de antes que agora voavam como voam folhas no outono.
Uma conversa estranha, falar de futuro já me é rotina, mas a parte da física ainda é novidade..
Olhar. Admirar, até perceber que o dia já se findou. Infelizmente sempre se tem que acordar de um sonho quando o sono acaba.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Acostumada

Já tão acostumados aquela monotonia calorosa e desapegada. Vivendo ao mar com pouca brisa, já quase sem vento. Contando uma história sem rimas e personagens, cantando música sem refrão.
Tão acostumados a um beijo gélido que nos resultava vida, que lhe dava esperanças e a fazia mais enrrigecida.
Ela jamais entenderia por que tamanha bondade, não possuiria ao dom de retribuir esse sentimento tão limpo que agora lhe é entregue. E, sempre numa hora qualquer da noite vai se questionar por que não se permite conhecer alma tão boa.
Tão acostumada a uma lágrima perto da têmpora. Já gasta de um sorriso de mentiras para si mesma.
Tão acostumada ao vermelho descascado do esmalte, ao lápis preto lhe fugindo os olhos.
Tão acostumada e cansada das justificativas, das esperanças, das incertezas que lhe rondavam em seu futuro sombrio.
Ela, já sem pressa, anda tão acostumada, tão cansada... tão cansada.

domingo, 23 de maio de 2010

Solidária solidão

Em que momento me tornei essa pessoa fictícia que não acredita nas coisas bonitas que tem na vida? Sempre que acordo tento responder a essa pergunta mas acabo por dormir mais uma vez sem ter resposta.
E nas vezes que eu durmo não há sonho e nem fantasia, não há cores e nem amores, não há sol e nem vida... é sempre um sonho cinza! E eu? eu gosto da propensão ao entristecido, chama menos a atenção, faz menos alarde. Faz com que eu consiga ao menos uma vez agradar-me sem ter de pensar se vou ferir alguém. Sempre quem sai ferida sou eu, quem colhe os cacos de um coração já remendado sou eu, o perdão sempre é o meu.
Às vezes gosto de rir, gosto de fingir que não estou perdida nos meus pensamentos, gosto de parecer aquilo que eu realmente tento ser... às vezes me perco nessa menina boba e cheia de medos que começa a acreditar em sonhos... às vezes eu quero me encontrar pra saber bem onde eu estou onde eu posso chegar.
Sempre sei que caminhar sozinha é mais difícil e doí mais os pés. Caminhar sozinha é bom para se testar, pra conhecer os limites de até onde eu consigo ir... sozinha.












Só!

terça-feira, 18 de maio de 2010

Réplica

A imagem que tentam refletir já é conhecida. Tentam fazer algo novo espelhando-se naquilo que já existiu e que só existe uma vez. Será que não entendem que não adianta continuar interpretando Sófocles com os seus respeitosos dramas que não terei a mesma compaixão de Euripedes. Esses eram mestres do teatro e não do circo que tentam armar. Pare de agir como se necessitasse da minha presença, pare de agir como se eu precisasse ser plateia desse espetáculo rídiculo e de fim de carreira, guarde esse trabalho para aqueles que assim como você precisam o tempo todo olhar para alguém que não é atingível com tamanhas insanidades. Ah não se dê ao trabalho de achar que eu me incomodo... se eu tivesse todo esse tempo com certeza estaria assistindo a palhaços bem mais engraçados.
Acredite! E de fato confie, não é encenação; nunca foi. Busque isso em si mesmo sei que não precisam espelhar-se. Se preciso for eu aviso a vocês que a vida pode ser bonita e colorida. Saiba que não perdi, apenas não tenho vontade de entrar no teu jogo e nem entrarei num jogo onde a regra sou eu.
Vá sem medo de se arriscar mais uma vez, se entregue. Feche os olhos e sonhe, mas evite incluir-me neles. Colha suas flores e não espere minhas rosas. Desprenda-se... corra... viva. O tempo que foi gasto não volta mesmo e isso é uma boa lógica de constatação, perceba isso na sua pequena cabeça turbulenta e insegura. Aprenda a não copiar os mesmos erros que cometi. Tente ao menos absorver as coisas boas e guarde a sua caixa de Pandora assim como guardei a minha.
Não estou buscando nenhum amor serôdio como o teu. Não sinto interesse em encenar pra meia dúzia de pessoas que acham que sou um bela atriz. Não preciso e nem faço questão.
Acalma-te agora... vai se sentir melhor quando começar a perceber que tem certas coisas que são extremamente banais e vai me dar razão depois. Vá com calma, conhece-te primeiro aí depois poderá me dizer se realmente vai continuar com teu espetáculo-fim-de-noite. Pare de se olhar num espelho que te deforma fazendo uma sobreposição daquilo que se busca ser mas que não consegue atingir com palavras copiadas.
Destino-lhes a mais ínfima das posições. Dedico-lhe a vitória de Pirro.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Voo quase livre

Não me dê tchau pela janela do carro não quero despedidas... não quero amores e nem faço mais questão das flores... eu quero poder virar de costas e suspirar aliviada por não ser mais observada, seguida, perseguida descreveria melhor a atitude com que agem em relação a mim. Voltar ao anonimato me faria bem. Pare de olhar pra mim como se ainda fosse criança e precisasse do seu colo cada vez que perdesse minha boneca, perceba que já as abandonei por vontade própria, não por que acho que chegou a hora de crescer mas pelo simples fato de que de que toda menina enjoa da boneca e descobre brinquedos mais interessantes.
Saia pela janela do sexto andar voando, sim use suas asas pra se afastar de mim, não precisa ter mais medo. Você é livre, sim voe, suspire. Siga os pássaros... a direção é mais ao norte, é longe eu sei mas siga-os. Vou deixar a janela aberta, não pra esperar que você desista do voo, vou deixa-la aberta para entrar um ar, vou abri-la para poder finalmente respirar. Estou sufocada pelo ar de lembrança que ronda esse quarto... sufocada por um suspiro entalado em minha garganta. Vamos, comece a voar sempre terá tempo de acompanhar os pássaros,  de seguir os ventos... voe.
Quando chegar ao norte e ver que lá está um pouco gelado não pense em voltar, o caminho que percorreu está correto só precisa se acostumar a aguentar o frio sem meu abraço; sem que eu o espere na janela.
Grite mais baixo no meio da dor. Seus gritos me incomodam e não me causam vontade de ajuda-lo. Grite mais baixo por favor! Não grite os teus medos, seja forte e o esconda, sim eu sei que você é capaz de escondê-los, sei que é capaz de sufoca-los assim como eu sufoquei todas as minhas lágrimas. Pode olhar para trás se quiser, só me faça a gentileza de não se arrepender e te peço isso com um tom de imploração e ao mesmo tempo com a voz de ordenamento que eu mesma já não a conhecia.
Amanhã  eu sei que verei mais beleza, eu sei... mas não tenho ânimo para as admira-las. Não tenho mais vontade do verde ou do vermelho, minha vontade é o acinzentado. Já não me decido mais pelo preto ou branco e na verdade isso pouco importa pois ambos estão na metade do cinza, o que é bom pois já seria meio difícil a essa altura decidir se estou meio morta ou completamente viva.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Retórica

... Aconteceu que deixei de vagar com meus sonhos durante a noite em meu quarto só. Levantei pela manhã com o corpo leve, parecia não mais conter o peso de uma alma entristecida. Fechei os olhos e alarguei os lábios com certa graça que me era peculiar.
Com dois passos em torno de mim mesma pude ver a todos aqueles que me assistiam, seus olhos brilhavam de uma admiração que até então não havia sabido reconhecer mas que a partir de agora me fazia tão bem.
Sim! me fez bem ver-te espelhado(a) em mim. E trágico seria se não cômico observar um rascunho copiado de um Shakespeare original.
Simplesmente voltei a ter pena. Acreditava não mais me deparar com pobres imbecis, acabei sendo tão cega ao ponto de permitir que tais gozassem de minha presença.
Graças a Deus, ao espaço talvez, me alivio aos poucos de ti (deles). Estranho é pensar que dormi durante os anos que minha platéia anciava pela estréia.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pisca - pisca

“A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso.
É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais.
[...] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia.
Pisca e mama;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;

pisca e geme os reumatismos;
por fim pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre? – perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?



                                                                                                                                   

Monteiro Lobato

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fim da poesia

Comecei a olhar tudo aquilo de maneira distante e não mais querendo ou não podendo decidir se ali realmente era o lugar certo para o descanso. Vi o começo de maio e o fim da primavera ao mesmo tempo, até ela cansara de esperar por um raio de sol.
Era o fim de mais um capítulo; era como alívio pro poeta que se dedica a obra por amor mas não abre mão do reconhecimento.
Posso ainda dizer que vi uma lágrima, vi mas não a ouvi, elas voltaram a se calar, passaram a não mais ter sentido. Percebi que faltava algo àquela alma e não algo irrelevante. Faltava vida a ela... faltava um pouco de vida.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Meio racional

Eu poderia te fazer uma jura qualquer e quebra-lá logo depois. Poderia confessar meus medos e mencionar as minhas mágoas. Eu poderia pintar um céu mentido de esperanças ou fazer alusãoes a coisas que eu sonhei em viver... eu poderia perder pra encontar-me no teu olhar... eu bem que poderia me arriscar mais uma vez; mesmo sem saber se alguém vem me salvar.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ancorar

Na profundidade de um oceano de passado é que se encontram as dúvidas manchando meu caráter que por vezes julgo falho.
Meu coração ancorado à milhas de qualquer lugar que me dê segurança; para ali simplesmente pra descarregar os porões de uma mente cheia e já muito cansada.
Indo ao horizonte, encontrando-me com o sol, percebo que bom mesmo é ter segurança e que avistar essas terras dá a mim essa sensação. Quero descobrir e explorar o que ainda é segredo aos outros.
Bom mesmo é hastear minhas velas e deixar que elas procurem vento... liberdade. E que se enganadas avistem costeiras esverdeadas.
Bom mesmo é poder mergulhar e ir o mais fundo que conseguir e que realmente foi o mais fundo que pôde; e perceber que viu belezas das quais já não mais as viverá.
Bom de verdade é retornar e perceber que voltou na hora exata de não esquecer a beleza que pode esconder o fundo do mar. Bom de verdade é não perder a chance de sempre se permitir mergulhar.



                                               

domingo, 14 de março de 2010

Dezoito graus

O frio não tem sido meu aliado. É bem nessas horas que ele mostra minha carência de um abraço.





Vai passar; amanhã ou depois. Vai passar... eu sei.

sábado, 13 de março de 2010

Já que não consigo ficar bem de verdade a sensação de não ser mais dependente de você me causa um alívio.





Me sinto mais leve por não chorar todas as noites.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Súbita fraqueza

Tenho ódio da minha fraqueza e pena do meu amor. Sim, eu tenho pena por saber que ele sobrevive sem esperanças. Eu sinto medo dos meus desejos e temo que eles me abandonem.
Tenho medo da solidão e me perco no vazio da minha companhia. Sinto a tristeza do meu rosto molhado salgado e sei que mesmo que ele seque, sei que continuará marcado pelo vazio.
Meu bom vicio amargo faz com que eu sobreviva mais um dia sem depender de você, mas basta sua voz para uma overdose iniciar em mim. Eu preciso ser forte e entrar mais uma vez na rehab.
Tenho desejo que escondo com o corpo mas que se afloram em meu olhar. Digo e faço coisas das quais me arrependo e sei, sempre sei que vou me arrepender. Acabo achando que estou dormindo e lhe agito para ver se acordamos desse sonho ruim. Descubro que enquanto eu sonhava você vivia um pesadelo.
Grito. Pergunto-me “por que comigo?”.
Exijo que isso acabe. Não, eu não quero sentir isso. Não quero ter pena do meu amor. Não quero que meu amor tenha pena de mim!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Decisão

Seria simples se fosse apenas escolher 'sim' ou 'não'; mas com as suas escolhas você é quem decide se quer viver todos os seus medos ou se vai ser covarde e arriscar não viver pelo maior medo que é o medo de sofrer.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Coisa de começo de ano.

Você diz que não vai chorar, e acaba chorando ao ver a lágrima de uma criança. E diz que nunca vai cair numa briga e acaba brigando por não admitir injustiça. Você fala que nunca vai dizer "eu te amo", até ver os olhos da pessoa que te ama brilhando ao proferir essas palavras; e você mesmo que no inconsciente acaba dizendo "eu também", mas se esquece que o "eu também" não é o mesmo que o "eu te amo". E você diz que nunca vai fazer juras e se perde numa jura de amor eterno. E diz que se jurou vai cumprir sua promessa até o fim até você quebrar a promessa e o que era pra ser eterno dura bem menos que uma história infantil. Você não precisava ter feito alvoroço eu estava te esperando em silêncio, mas ao invés disso você chegou fazendo festa em meu coração e disse que meus dias seriam sempre alegres... Antes dos preparativos da festa você foi embora e meu coração não foi mais festivo, passou a ser triste como velório. Eu nunca esperei a morte mas sempre soube que ela viria viva.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Tenho vergonha de falar disso...

... é algumas pessoas simplesmente sentem por medo de dizerem o que sentem.
E às vezes perdem! Por terem medo de jogar e apostar suas fichas na aposta que é certa em ganhar.