terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Carta de Maria ao Jão

Hoje é dia cinco do primeiro mês do ano, ainda estou meio perdida com o novo ano e também com a troca de horários por isso tenho dormido até tarde. Este ano o verão começou bem mais quente do que costumava ser. Na semana passada tive uma insolação, há muito tempo minhas pernas não eram expostas ao sol; sua brancura era tanta que dava pra seguir com os dedos o caminho das veias.
Eu estou bem querido, alimento-me três vezes ao dia e nos últimos meses ganhei alguns quilos, não pense que estou gorda, apenas perdi aquela aparência doentia e anorexa da qual me viu antes de partir. Alguns vestidos estão até ficando melhor em mim agora. Comprei um delineador novo para mim, o meu antigo já não deixava  o traço perfeito e também comprei um batom, ele é vermelho (o meu favorito) mas ainda não o usei, vou deixa-lo fechado para que você o veja quando chegar.
Por falar em voltar, me avise se você vem passar a Páscoa comigo, é que eu queria fazer aqueles bombons caseiro de brigadeiro que tanto gosta.

Lembra daquele nosso velho amigo? Pois é, já não me escreve mais. Se souber como ele está por favor me avise. Ah querido você merece um puxão de orelhas por ter contado o meu segredo a ele... mas eu poderia te perdoar por isso.

Essa é a 36° carta que eu escrevo desde que você se foi, tento escrever toda a semana ou pelo menos a cada quinzena. Lembro-me do dia em que saiu de casa, era final da primavera. A primavera se foi, voltou e novamente se foi sem que você voltasse.
Querido comece a mandar as cartas para a casa da mamãe, há algo de errado com o nosso endereço pois até hoje nenhuma carta chegou. Talvez eu devesse ir até o correio ver o que tem de errado, é que da última vez que estive lá a senhora da recepção disse que nesse período não chegou nenhuma carta sua para mim, eu sei que ela deve ter ser enganado, sei que não me abandonaria por tanto tempo.
No sábado passado eu saí de casa pela primeira vez, não fique bravo por eu ter ido ao baile com duas amigas, eu disse a elas que não iria gostar mas elas insistiram bastante para que eu fosse. Dois ou três rapazes me chamaram para dançar, por favor não fique zangado ou com ciúmes, eu disse a eles que você poderia voltar a qualquer momento; acredita que um deles até riu de deboche dizendo que você não vem mais!? As vezes eu temo que eles possam estar certos...
É pena, mas agora preciso me despedir, ainda tenho muito que fazer. Vou regar as rosas que você me deu, alíais a roseira está enorme e muito linda, você vai ver quando chegar. Tenho cuidado dela como cuidaríamos um do outro.
Jão, estou sentido sua falta, mas eu espero você voltar.
Meu querido, se cuide enquanto eu vou sobrevivendo.
            
                                                                                                  Maria