Aos poucos ia percebendo que já não tinha mais motivos para sonhar. Percebia que só se levantava da cama por que o sono já havia acabado. E que as enormes olheiras estampadas em sua face era o sinal de uma péssima noite anterior.
Dessa vez caminhava do lado mais movimentado da calçada. Ainda que odiasse a multidão era perto dela que queria estar. Ainda que já conquistara a salvação parecia não abrir mão daquele perdão.
Seu tempo era mais dedicado aos outros do que ao espelho. A imagem refletida se assemelhava a imagem da derrota. Faltava-lhe força. Havia sobras de amor e um cartaz à procura da esperança.
Aos poucos ia percebendo que ao seu redor variava os gostos, os rostos. Variava em seu sentido e forma . Ainda não perdera sua aparência de rosa, apenas se protegia mais com acúleos e evitava que exalasse seu perfume.
Era intensa de sentimentos, porém seca de palavras. Duvidava de seu próprio caráter, não que fosse perversa ou desejasse a maldade, mas, era entre esses que se escondia. Trazia consigo uma feição temerosa e mãos frias.
Não teria sido o suficiente a tristeza do poeta ou as lágrimas do ator. Ela estava no teatro a meia hora e ainda não descobrira a que peça havia interrompido.